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Baiano de 19 anos abraça comparação com Cielo e quer recorde mundial

Qualquer comparação entre um garoto e um ídolo do esporte costuma ser um fardo para o novato. Quantos já não se perderam na frustração de não chegarem ao mesmo nível? Mas Guilherme Caribé, 19 anos, parece não ter nenhum medo de ser apontado como o “novo Cesar Cielo”. Repete que tem tempos melhores do que o campeão olímpico tinha no mesmo estágio da carreira e afirma vai buscar de volta para o Brasil o recorde mundial dos 100m livre que foi de Cesão.

Se você não sabe quem é Guilherme Caribé, prazer. Ele é não só a nova aposta para ser o próximo grande velocista brasileiro como parece ser também quem mais merece esse rótulo nos últimos anos. No fim de semana passado, mesmo sem estar 100% em forma, reservada aos principais torneios da temporada universitária dos EUA, ele estabeleceu novos recordes brasileiros júnior nos 50m e nos 100m livre.

Nos 100m, com 47s82, assumiu o quarto lugar do ranking nacional adulto de todos os tempos. Nos 50m, baixou da casa de 22 segundos, para 21s87, algo que só Bruno Fratus, entre os brasileiros, havia feito nos últimos quatro anos.

Nos EUA, em novembro, já havia nadado as 100 jardas livres em 41s44. Como comparação, ao fim do seu primeiro ano como universitário nos EUA, Cesar Cielo tinha tempo mais um segundo pior: 42s58. Atual campeão olímpico, Caeleb Dressel fechou sua primeira temporada universitária com 41s90.

Caribé só não é o melhor calouro de todos os tempos, após três meses nos EUA, porque no ano passado Jordan Crooks fez 41s16. Ele e o nadador das Ilhas Cayman, agora campeão mundial dos 50m em piscina curta, são companheiros de equipe no Tennessee. Na primeira grande competição entre eles, ainda aprendendo a nadar em piscina de jardas, o brasileiro só ficou 0s17 atrás de Crooks.

Tudo isso aos 19 anos, antes do fim do primeiro dos oito semestres em que ele deverá treinar e estudar no Tennessee. “Nunca tinha tido mudança na minha vida, sempre treinei com o mesmo técnico. E de uma única vez tudo mudou. Não foi de estado, foi de país. Foi uma mudança grande em relação à metodologia de treino, pessoas novas, ter que falar inglês, ter um time muito maior. Antes era, meu pai e meu técnico”, conta Caribé.

Desde que aprendeu a nadar aos 2 anos, levado pela pai, que só queria ensiná-lo a ficar em segurança na água, Caribé sempre teve as mesmas pessoas por perto. O pai, Matheus Caribé, educador físico e atualmente seu preparador, e Rafael Spínola, treinador. Diferente de tudo que aconteceu na natação brasileira nos últimos anos, ele não representa um clube paulista, nem qualquer um dos ‘grandes’ da natação brasileira. Compete pelo Clube dos Funcionários da Petrobras, de Salvador.

“A gente dá uma assustada no pessoal, é interessante”, diz o garoto, que, não fosse o sotaque, poderia ser confundido com Bruno Fratus. “As pessoas acham que para ser grande você precisa estar em um clube grande do sul e do sudeste. Mas poucos conseguem comprovar que não é assim. O Edvaldo, eu…”

É Caribé quem traz para a conversa a outra comparação óbvia: Edvaldo Valério, o Bala, medalhista de bronze olímpico com o 4x100m livre em Sydney-2000. “O Valério foi um cara que ajudou muito, servindo como referência, ajudando. Aconselhando, dando dicas, e mesmo como incentivo de um atleta foi feito na Bahia e conseguiu chegar nas Olimpíadas. Muitas pessoas esperam que vá para clube maior, maior estrutura, mas ficar aqui é algo gratificante.”

Erro de principiante

Caribé nunca chegou à seleção brasileira adulta. Ele poderia ter estreado no Mundial de Budapeste, no meio do ano, mas cometeu um erro de principiante na seletiva, o Troféu Brasil. Comprou um traje novo e quis estreá-lo na competição — a roupa fica muito justa ao corpo e não pode ser vestida e retirada muitas vezes.

Quando caiu na piscina, descobriu que o traje ficou largo e permitia a entrada de água nas costas. Ao invés de ganhar tempo, ele perdia. Acabou fora da final A. À tarde, até fez marca que o colocaria para nadar os 100m livre e compor o 4x100m no Mundial, mas como ela foi obtida na final B, não valeu para convocação.

Em setembro, optou não não voltar dos EUA para o Brasil para nadar a seletiva para o Mundial de Piscina Curta. Diferente do colega e rival, que foi à Austrália e não só ganhou os 50m como foi o mais rápido das eliminatórias e das semifinais dos 100m livre, terminando depois em sétimo, Caribé preferiu ficar com a equipe de Tennessee, que até o havia liberado, visando sua primeira temporada na natação universitária dos EUA. Em três meses, já ganhou quatro quilos de massa magra e, não sabe como, alguns centímetros de altura.

Também já mostrou a que veio. É o segundo do ranking universitário nas 100 jardas, só atrás de Crooks. “É um grande atleta, um grande amigo, mas quero ganhar dele, da mesma forma que ele quer ganhar de mim”, diz o brasileiro, já pensando no campeonato da NCAA, em 2023.

Para o ano que vem, também quer manter a sequência de títulos nacionais. Ele ganha todos os campeonatos nacionais de categoria nos 100m desde os 16 anos e, dos 50m, desde os 17. Em 2023, porém, a briga será entre os adultos. Na prova mais curta, contra Bruno Fratus. “Eu quero ganhar dele ano que vem, é um desafio legal. Um cara que me espelho muito dentro da água. A gente conversa, ele me incentiva”, conta Caribé, que recebeu elogios públicos de Fratus depois da dobradinha no júnior.

Mas o baiano diz que seu forte não é os 50m, mas os 100m livre, prova agora dominada pela estrela adolescente David Popovic, romeno de 18 anos que bateu o recorde mundial que era de Cesar Cielo. Caribé não se assusta: “É um grande atleta, que se tornou um alvo pelo recorde mundial que quebrou do Cielo. Mas estou indo buscar esse recorde de volta”. A conferir.

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